Entrevista com Marcos Rangel – Juiz, figurante e competidor internacional nas provas de IPO representando o Brasil



Entrevista com Marcos Rangel – Juiz, figurante e competidor internacional nas provas de IPO representando o Brasil . Tri-Campeão Brasileiro de Adestramento IPO3 2007/2009/2010... Tetra-Campeão Mineiro de Adestramento 2007/2009/2010/2011 IPO 3 100/96/96 Tetra Campeão brasileiro por equipe 2006/2009/2011/2013.
28° lugar dentre 170 cães WUSV 2009 274 pts 5 x Representante do Brasil em Campeonatos Mundiais WUSV 2008 EUA/2009 Alemanha 96 pts faro/2010 Espanha 91 pts obediência/2011 Ucânia 94 pts proteção e 2012 Áustria  94 pts faro.
Primeiro e único condutor a graduar um cão FH2 no Brasil.

Figurante de formação de vários cães campeões estaduais e nacionais. Figurante de formação das 3 melhores proteções do CNA 2013.





  • Quando começou a praticar esportes com os cães?

 Comecei no final da década de 90, quando trabalhava com cães para residências e segurança.

Comecei a praticar o agility e o IPO ao mesmo tempo, fui campeão brasileiro no agility e depois resolvi dedicar mais tempo ao IPO.



  • Porque escolheu o IPO?

Porque eu acho o esporte mais completo que se pode praticar com um cão. Trabalhamos todos os seus instintos, onde temos que manter a motivação e disciplina junto com a perfeição. Não é para qualquer cão ou treinador, quando falamos em alto nível de treinamento e de cão.

  • Qual seu real interesse no esporte?

 Meu real interesse é a competição e depois é claro a seleção genética correta, dentro do propósito do qual foi criado o schutzhund: o real cão de proteção. O nome foi mudado e concordo, pois hoje em dia a direção é outra, mas mesmo assim tenho em mente e sempre procuro o verdadeiro cão de proteção.

  • Você utiliza o Pastor Alemão de linha de trabalho, por quê?

 Porque pra mim é o cão que me dá certeza de um alto desempenho, pela sua história, pela sua seleção que está há anos luz de outras raças, e com isso um maior nível de segurança e estabilidade de nervos dentro da raça.

  • Qual sua maior e melhor conquista nestes anos todos como esportista?

Foi estar entre os 28 melhores do mundo, dentro de 170 cães fiquei a 11 pontos do pódium, e pude ver que temos sim chances de estar entre os melhores do esporte mundial, mesmo com as dificuldades que temos no Brasil tanto nas condições de treino quanto na política dos clubes.



  • Conte-nos um pouco sobre representar o Brasil lá fora.

É uma emoção muito grande, principalmente quando você se apresenta tecnicamente bem. O pessoal do esporte mundial começou a ter mais respeito pelo Brasil, que no passado, infelizmente, já foi exemplo de chacota. Isso de forma alguma não dando valor a quem já representou o Brasil, pois era outra época e as técnicas e cães que tínhamos disponíveis eram bem diferentes de hoje, mas sim mostrando que hoje em dia não somos mais bobos e sabemos sim apresentar um cão em uma prova que encha os olhos.

  • Qual a sua crença com relação aos métodos de ensino?

Primeiramente não acredito em métodos. Sim, eles podem funcionar com um cão ou outro, mas, para um alto desempenho, acredito em buscar no cão o que é melhor para ele, tirando o máximo dele. Para isso temos que ter o máximo de experiência técnica e olho clínico para que possamos ter este alto desempenho. Buscar sempre aprender e entender porque o treinador ou o seminarista faz isso ou aquilo e, é claro, em que momento, pois talvez em outro momento não fosse apropriado.

  • Você ministra cursos de formação de figurantes. O que você oferece para aqueles que querem tornar-se figurante?    

Sim, forneço curso para formação de figurantes de prova e formação. Procuro passar minha experiência que adquiri aqui e fora do País e deixar bem claro que o figurante de formação é totalmente diferente do figurante de prova. O figurante de formação deve formar o cão na proteção, ensiná-lo a ser agressivo e corajoso, a ter autoconfiança, enquanto que o de prova deve testar esta autoconfiança, colocando em xeque se este cão realmente está bem treinado e se ele tem resistência à pressão. São duas coisas totalmente antagônicas. Por isto tenho dois cursos de figurantes montados: o de formação e o de prova, deixando bem claro a diferença entre os dois. E, é claro, um figurante de formação tem que saber como é ser um figurante de prova na prática e no regulamento.

  • Qual foi o seminário ou curso que mais valeu a pena?

Na minha formação, todos os seminários que participei tiveram sua importância. Mas o seminário que mais aprendi, principalmente a ler um cão e saber se este cão realmente é um cão como se deve ser em termos de agressão, segurança e nervos, e também como deve ser um verdadeiro treino de proteção, foi com o Jan Kokx, que hoje é meu amigo. Na verdade, ele é como se fosse meu pai. Não foi só um e sim vários, pois para entender como funciona realmente o que o seminarista quer passar nos cursos, não é em um só que você consegue aprender e sim em vários, além de treinos juntos. Em minha opinião treinar junto é mais válido do que muitos seminários. É claro que também depende do ponto de vista e da experiência de cada um. No meu caso, sim. No caso de um iniciante já é diferente.





  • Como você evoluiu como condutor e figurante?

A evolução esta lá nas quatro linhas. Quando você está competindo, você quer ganhar e, para ganhar, você tem que correr atrás das melhores técnicas, do seu melhor desempenho e com isto você evolui naturalmente.

  • Qual a sua opinião sobre um treinador que não pratica um esporte com cães nem se submete ao rigoroso regulamento internacional da FCI?

Infelizmente ele esta parado no tempo, fica atrasado, porque o esporte é a formula 1 do adestramento. Do esporte é que tiramos as melhores técnicas para o  treinamento de cães. E é nas competições que estão os melhores adestradores. É dentro das quatro linhas que você mostra que é bom.

  • Como Juiz de adestramento, o que mais causa frustração em você?

A política podre e pobre que existe no Brasil, pessoas que não sabem nem treinar um cão ditando regras e o próprio ego. Pessoas que não pensam na evolução do esporte e sim nos próprios interesses.

  • Qual a relação entre o esporte e a criação?

Eles andam juntos, mas hoje em dia a criação de cães de trabalho esta indo para um lado que não é bom. Hoje temos 3 tipos de pastores alemães, o de beleza , esporte e o real.   Ainda conseguimos com uma minoria de criadores o verdadeiro cão real. Nem sempre um campeão é o ideal para a criação. Na criação precisamos de cães extremamente fortes em saúde e em seus instintos, no faro, impulso para o trabalho, dureza, e principalmente em sua agressão e nervos.

  • Como você escolhe um filhote?

 Pela sua linha de sangue, conhecendo os pais, se possível avós,  atitude do filhote,  pela  sua estabilidade nervosa e sua segurança. O drive vem depois, pois não adianta drive ALTO SE NÃO TEM NERVOS ESTÁVEIS! Sem nervo não existe drive, o drive é anulado a qualquer momento pela insegurança do cão. 

  • O Esporte com cães atualmente está buscando o melhor para a espécie canina. Qual seu ponto de vista da relação entre a educação do cão e confiança com o dono e seus resultados em prova de adestramento?

Na verdade o melhor para as espécies caninas é o esporte e o trabalho. Sem eles qualquer raça de trabalho é extinta. Quando há entretenimento entre cão e homem há confiança e se há confiança e trabalho há resultado.

  • Todos sabem que o manejo é muito importante no adestramento. Como ou o quê você faz no dia a dia com seu cão?

No dia a dia ele vive como um cão, como um membro da família: fica comigo dentro de casa, tem seus horários para ficar solto e preso, tem seus passeios etc...

  • Como manter o equilíbrio entre a motivação e concentração?

 Esta é uma coisa que eu menos vejo nos competidores. A maioria não consegue, pois não é fácil, no treino ok, mas em prova aí é que são elas. Isto depende do cão, da experiência do treinador... Uma coisa eu sei: não se consegue concentração sem disciplina.

  • Como você define um bom Cão para o esporte e sua relação com a mordida de boca cheia?

Mordida cheia, com técnica de treino isso você consegue. Mas o mais importante é quando ela vem da genética. Então busco também esta característica na escolha do cão para esporte. Mordida cheia, forte e estável também  é sinônimo de cão seguro de qualidade genética.

  • Você trabalhou por muito tempo com Jan Kokx. O que você nos diz sobre isso?

Sou suspeito para falar sobre ele. Como falei ele é um pai para mim, sempre me ajudou e sempre está me ajudando. Aprendi muito com ele não só no esporte, mas também na vida, nas atitudes, no caráter de realmente ser homem, uma pessoa extremamente correta,  honesta. Um exemplo de ser humano.

  • Qual o conselho você pode dar aos jovens que estão iniciando no esporte?

Primeiro feche os ouvidos para as pessoas que tentam denegrir ou falar mal de algum trabalho feito, de alguém que está tentando competir e colocando seu cão dentro das 4 linhas. Procure aprender com os mais experientes e não fechar a cabeça. Todos nós sempre temos algo a aprender. Tente observar quem tem resultado. Quando nós paramos de aprender, deixamos de evoluir e, no mundo, tudo evolui e o treinamento de cães não seria diferente.

  • Como você acredita que será o futuro do esporte no Brasil, pelos acontecimentos recentes, a explosão dos malinois que estão em preparação para competir?

Ainda não vi nada demais em malinois no Brasil. Pelo contrário. Agora estou vendo um começo de criação de malinois, cães novos que chegaram uma criação mais ajustada. Sim, porque malinois já temos, há alguns anos, eu mesmo já tive e treinei vários malinois. Acho que dentro de alguns anos vamos ver bons malinois em provas.

Muito obrigado pela entrevista Marcos.

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